O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que há espaço para o juro básico da economia, fixado pelo Banco Central (BC) para conter a inflação, recuar.
Segundo ele, a taxa "nem deveria estar no atual patamar de 15%" ao ano, o maior nível em quase 20 anos.
"Eu entendo que tem espaço para esse juro cair. Acredito que nem deveria estar em 15% [ao ano]. Ele [presidente do BC, Gabriel Galípolo] tem os quatro anos de mandato dele, e ele vai entregar um resultado consistente ao Brasil [...]. Eu não voto no Copom [colegiado do BC que define os juros]. Essa opinião, boa parte do mercado compartilha", disse Haddad, em entrevista ao ICL notícias.
A taxa foi mantida pelo BC neste patamar pelo Banco Central na semana passada.

Banco Central mantém taxa básica de juros em 15% ao ano pela segunda vez
Desde o início deste ano, a autoridade monetária é chefiada por Gabriel Galípolo, indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e já conta com maioria de diretores indicados na atual gestão também.
O ministro Haddad disse, ainda, que a inflação "nesse ano vai ser menor ou igual a do ano passado". "Está voltando para patamares próximos do teto da banda [4,5% ao ano], importante trazer para dentro da banda. No horizonte permitido pelo sistema de metas [que é contínuo]", declarou.
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➡️O Banco Central tem dito reiteradamente que a desaceleração da economia, ou seja, um ritmo menor de crescimento, é necessária para conter as pressões e trazer a inflação de volta para as metas. O governo, entretanto, teme o impacto dessa desaceleração no emprego e na renda da população.
➡️Nesta terça (23), o BC avaliou que a queda recente do dólar e a desaceleração do ritmo de crescimento da economia contribuem para o controle da inflação, mas segue sinalizando juro alto por período "bastante prolongado" de tempo. O mercado projeta queda da Selic somente em 2026.
Fernando Haddad durante coletiva sobre megaoperação contra o PCC — Foto: Jorge Silva/Reuters
Como as decisões são tomadas
🔎A taxa básica de juros da economia é o principal instrumento do BC para tentar conter as pressões inflacionárias, que tem efeitos, principalmente, sobre a população mais pobre.
Para definir os juros, a instituição atua com base no sistema de metas. Se as projeções de inflação estão em linha com as metas, é possível baixar os juros. Se estão acima, o Copom tende a manter ou subir a Selic.
Desde o início de 2025, com o início do sistema de meta contínua, o objetivo de 3% será considerado cumprido se a inflação oscilar entre 1,5% e 4,5%.Com a inflação ficando seis meses seguidos acima da meta em junho, o BC teve de divulgar uma carta pública explicando os motivos.Ao definir a taxa de juros, o BC olha para o futuro, ou seja, para as projeções de inflação, e não para a variação corrente dos preços, ou seja, dos últimos meses.Isso ocorre porque as mudanças na taxa Selic demoram de seis a 18 meses para ter impacto pleno na economia.Neste momento, por exemplo, a instituição já está mirando na meta considerando o primeiro trimestre de 2027.Para 2025, 2026, 2027 e 2028, a projeção do mercado para a inflação oficial está em 4,83% (com estouro da meta), 4,29%, 3,9% e em 3,7%. Ou seja, acima da meta central de 3%, buscada pelo BC.
Mudanças no Imposto de Renda
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, também que o Congresso Nacional está "muito maduro" para aprovar a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, mas admitiu que o "problema é aprovar a compensação".
Para compensar a perda de arrecadação com a ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda para rendimentos até R$ 5 mil mensais, o governo pretende taxar os super ricos, ou seja, aqueles com renda mensal superior a R$ 50 mil — o equivalente a R$ 600 mil por ano.O projeto do governo impede que cobrança sobre dividendos de pessoa física e empresa supere 34% para empresas e 45% para financeiras.
"Hoje o cara [mais rico] paga 2%. Sair de 2% para 10% é uma revolução. Abre um caminho para, daqui a pouco, as pessoas falarem para acertar o jogo. Começar a agenda de combate à desigualdade é mais difícil do que seguir com ela. Vamos reduzir a alíquota sobre o consumo", declarou Haddad.
Segundo ele, conseguir no Brasil o patamar de taxação da renda existente na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), e reduzir a tributação sobre o consumo (que afeta a população de baixa renda), seria uma revolução.
"Aqui a gente cobra do pobre no consumo e não cobra do rico no IR. É uma coisa tão distorcida. Se engatarmos no caminho de reduzir sobre o consumo e aumentar sobre a renda, o caminho é esse. Se entrar na estrada certa, ganhamos a viagem. A 20 por hora, a 50 ou a 100, a sociedade vai decidir", acrescentou Haddad.
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